domingo, 22 de março de 2009

Pão dourado - paladar galego

Essa semana estou por Congonhas, meio de molho, de pernas para o ar, curtindo mimos de mães e me deliciando com o livro de memórias de Nélida Piñon - Coração Andarilho - lançado recentemente pela Editora Record.


Descubro que me emociono e me identifico com as memórias dessa galega, nascida em Vila Isabel, no Rio de Janeiro, primeira mulher a presidir a Academica Brasileira de Letras e detentora de vários prêmios de literatura, entre eles o Prêmio Príncipe de Astúrias pelo conjunto de sua obra.


Nélida relembra as tertúlias na cozinha de casas onde viveu e por onde passou. E diz em um dos muitos momentos que fala sobre comidas, sabores, memórias e gostosuras vividas: "é forçoso dizer, que a vida, em torno do fogão ganha densidade" . Só tenho que concordar.

Em volta da mesa do almoço, ou de cafés seus pais recebiam amigos, os tios, a família; as delícias preparadas pela mãe. Essa menina vai formando suas identidades: mistura paladares galegos como o sabor do polvo ibérico e os sabores saídos tachos brasileiros, como a goiabada ou dos doces de São Lourenço onde o avô levava a família quase todas as férias. Daniel, o avô, nasceu na aldeia de Cotobade, província de Pontevedra, vizinha da também pequena Almofrei, terra do meu bisavô, de quem preservo o sobrenome. Tenho mais sangue brasileiro do que ela, mas meu pé galego é firme e minha identificação é total.


Lá fora a chuva fria abre o outono e me faz lembrar que os celtas, antigos galegos, celebravam cada mudança de estação com festas e comidas, no ritual da sagrada roda do ano. Também ontem, quando a chuvinha fina já chegava por aqui - será coincidência? - reencontrei na web Marisa ,"irmã" galega, que deu-me informações precisas de onde encontrar os registros do meu bisavô na cidade de Santiago de Compostela e que conheci pessoalmente ano passado quando fui buscar esses papéis tão valiosos à minha identidade. Com Marisa experimentei uma típica sopa galega e garantia que aquele deveria ser exatemente o sabor cotidiano da infância do velho Senra. Marisa mantem o blog Cuspe de Pita, que vale a pena conferir.

Então, para comemorar toda essa sintonia, deixo uma receita que minha mãe gosta de fazer no Natal. É uma receita cheia de histórias que está no Quitandas de Minas, receitas de família e histórias.


Pão Dourado



Minha mãe conta que o pão dourado é uma variação da portuguesa rabanada, (que tem o pão frito em óleo) aprendida por sua avó paterna (Maria Cordeiro Senra) das cunhadas galegas. Como outras receitas da minha mãe, não existe quantidade dos ingredientes. Minha mãe faz esse prato sempre em época do Natal e rèveillon.

Ovos
Bisnagas de pão
Leite
Açúcar para calda
Canela

Modo de fazer:

Cortar a bisnaga em fatias de mais ou menos um dedo de espessura. Molhar em leite morno, deixando encharcar, mas sem pingar. Passar no ovo batido e colocar para cozinhar na calda rala. Deixar por alguns minutos, virar. Tirar e escorrer com escumadeira quando perceber a parte do ovo cozida. Colocar numa travessa e polvilhar com canela.



10 comentários:

  1. Adoro pão dourado!!!
    E a última vez q comi (uns anos) foi sua mãe mesma que fez... saudade!
    Bjinhos!
    Camila Pinho Senra

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  2. Como quedamos, te escribo en castellano para que practiques ;-)

    Recuerdo que aquel día magnífico que pasamos entre O Cebreiro y Samos, hablamos de este plato :-)

    Abrazos.

    Marisa

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  3. quero agradecer , pq minha mãe também fazia pãp dourado e abrindo esta página pude copiar a receita
    muito obrigado !!

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  4. Sou Mineiro da zona da mata adoro pão dourado sempre fazemos no natal e ano novo!!!1

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  5. A minha mãe faleceu em 1995 e desde então não comia pão dourado pois nenhuma de nós (suas filhas) tínhamos aprendido a fazer.
    Vou fazer esta receita hoje e tenho certeza que eu e minhas irmãs teremos boas recordaçôes de nossa mãe. QUE TODOS TENHAM UM 2011 ABENÇOADO.

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  6. Adorava comer pão dourado, minha avó fazia, depois foi minha mãe. Quase ninguém aqui no rio conhece. Peguei a receita aqui e fiz o ano passado, nossa como foi bom, meus irmãos e eu relembramos a nossa infancia. A´te meu esposo que não tinha comido ainda adorou. Obrigado

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  7. Minha sogra tbm fazia pão dourado, procurei hj no caderno de receitas que foi dela e não encontrei. Obrigada por compartilhar...Minha filha ama pão dourado!Valeu.

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  8. um doce simples,facil de fazer,gostoso como deveriamos levar a vida com simplicidade e doçura.
    sonia vicosa mg

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  9. SO FIKEI COM UMA DUVIDA, A CALDA VAI SE CONSERVAR RALA E CLARA ATE COZINHAR ( FRITAR ) O ULTIMO PAO?

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  10. Não Kithy, a calda deve ser bem ralinha, porém doce e numa quantidade que chegue à metade do pão. A cada camada de pão tirada da panela, verifique a consistência da calda e ponha um pouco de água fervendo para ralear. Muitas vezes tem que se por mais calda.

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