quarta-feira, 18 de março de 2009

minha história de menina rapando tachos - final

Começo e termino o post de hoje com foto dessa turma - A turma do Vozes - que de uma forma super legal, acabou me "jogando na cozinha". Com esses cidadãos do mundo, porque vivem em São Paulo, resgatei o melhor da infância: a casa grande do interior, a cozinha, as brincadeiras todas, a gargalhada solta e o viver com prazer. Eita turminha boa!



Mas olha como são as coisas, e como os amigos estão sintonizados. Eu já ia chegar na parte dos doces de corte e as comadres Cíntia e Junelise resolveram aproveitar o tempo das goiabas, e das águas de março, fechando o verão, como diz a canção e mandar suas receitas de goibadas. Pura delícia!


Mas eu tava contando minha história de menina rapando tachos e essa é última parte:

Fui criada rapando tacho e até arrombando caixas de “doces de corte”. Ah! sim, os doces de corte, ou pastosos, eram colocados em caixas de madeira medindo cerca 25 centímetros de largura por meio metro de comprimento; forradas com papel impermeável e, fechados com uma tampa de correr. Na medida da necessidade, os pedaços iam sendo tirados e colocados em pratos, que iam para mesa, aos domingos, depois do almoço especial ou quando chegavam as visitas. Eu, moleca, formiga doceira, tirava o doce a colheradas, pela parte de trás. Para quem não conhece muito bem o ponto do doce de colher, é assim: quando ao mexer se começa a ver o fundo da panela, ainda um pouco mais mole que para o doce de cortar. É quando a massa começa a se desprender do fundo da panela, esse é o ponto de colher.



Um dia pegaram uma caixa de bananada já pela metade, só com marcas das minhas colheres! Na certa sabiam quem era. Com tanta fartura, só ganhei uma advertência, um pito rápido!

- Não faça mais isso. A gente pensa que ainda tem e já acabou!

As receitas que apresento no Quitandas de Minas, receitas de família e histórias são coletâneas de cadernos de receitas de amigas, das tias e das tias-avós, sempre do lado materno, algumas recolhidas de folhas soltas pelas gavetas da casa de minha mãe e tias e principalmente dos cadernos da minha avó Naná (Dinorah de Oliveira Senra) e da Dinha Lete (Celeste de Oliveira).
Elas tinham cadernos diferentes. Minha avó, a dona da casa, era professora e tinha o caderno esmerado, com a mesma letra caprichada, mas na hora que precisavam mesmo de uma boa receita era ao caderno da Dinha Lete que recorriam: receitas de todo jeito, com letra de todo mundo. Dinha Lete não era amante das letras, sabia as receitas de cor e só anotava as novidades, as variações. Normalmente pedia alguém que anotasse, porque ela sempre estava com a mão cheia de gordura, tirando tabuleiro do forno, mexendo uma panela, picando uma verdura ou pegando alguma galinha para fazer um guisado. Algumas dessas receitas aparecem em quase todos os cadernos, já que a troca de receitas era comum entre elas.

Sexta-feira era dia de fazer a quitanda, os biscoitos, sequinhos, que iam para a lata. No sábado era o dia do bolo, da broa. Domingo minha mãe passava ali para o café da noite, sempre depois da missa das sete, com a penca de meninos: Renato, Raquel e Regina, pequenininha, ainda no colo. Eu não ia, era ali, naquele paraíso que eu morava.

Essa minha história é um pouco da história de todos os mineiros crescidos no interior, com as tradições, os costumes e as manias desse povo. Há muito moro na capital, Belo Horizonte, cidade grande, cheia de progressos e provincianismos (contraditório e complexo ao mesmo tempo).
Carrego as lembranças de um modo de vida já um tanto raro nesse mundo cibernético. Tenho um grupo de amigos, internautas paulistanos, na maioria, mas também de outras partes do mundo, que, quando me apresentei como uma “mineira”, logo me pediram receitas de doces, de quitutes e quitandas das Minas Gerais.
O Quitandas de Minas, receitas de familia e histórias é um presente a eles e a todos os brasileiros que querem conhecer mais um pouco do interior simples, da magia das conversas ao lado do fogão a lenha, dos mistérios das montanhas. Como tal, serve para reafirmar o jeito mineiro, tão peculiar e tão querido e tão nosso.



4 comentários:

  1. Mas você está mesmo na sintonia, mineira!
    Pois não é que ontem eu lembrava desses velhos encontros, ao ver a PP apresentando o Instrumental SESC Brasil. Também porque no dia 9, reencontrei o Vinícius num show de lançamento do CD "O Alumioso" - Di Freitas/CE. Pois não é que o papo foi regado com "quitantas" após o show?!! Faltou você e suas histórias.
    Beijos da Kaw

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  2. Ei Rosaly! Pois é, esse nosso jeitim mineiro de agradar, preparando quitutes e quitandas. Há quem diga que quando vem a Minas, come muito e volta com uns quilinhos a mais. E eu completo: come bem demais!! Segue uma receita de um bolo superprático e gostoso! Receita de uma tia e que está no livro Memória Culinária: Coisa de Vó.

    Bolo de banana amassada
    1 colher de sopa cheia de manteiga
    1 xícara de banana caturra(nanica)amassada
    1 xícara de açúcar cristal
    1 ovo
    2 xícaras de farinha de trigo
    4 colherinhas (chá) de fermento em pó
    1 colherinha de sal

    Bater a manteiga com o açúcar e a gema. Acrescentar a banana, a farinha, o sal e bater um pouco mais. Por último, a clara batida em neve e o fermento. Colocar em forma untada e por em forno médio por 30 a 35 minutos.

    Alterações possíveis e saudáveis:
    Trocar o açúcar cristal por mascavo e a farinha branca por farinha integral.
    Gosto de colocar em forma de bolo inglês, aquela compridinha.
    Um beiju, Junelise

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  3. Estou leda de compartir estas receitas e estas historias da miña irmá brasileira :-)

    Moitos bicos para ti e para esas dúas fermosas mulleres que coñecín e que seguro que teñen moita culpa de que escribiras este libro.

    Marisa

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  4. Olá, meu nome é Suzana. Nasci em Belo Horizonte, hoje moro no rio de Janeiro, tenho 56 anos, sou estudante do curso de letras e adoro escrever. Pesquisando algo sobre regionalismo brasileiro foi que te encontrei. E você me reportou para uma parte da minha infância. Eu vivi algum tempo na cidade de Itabirito, morava com umas tias e o meu cotidiano era como você conta. Na casa dessas tias o dia de quitanda era o sábado. Nesse dia era feito todos os pães,biscoitos, broas para a semana.Eu tinha uns dez anos e meu irmão sete ficávamos não sei se ajudando ou atrapalhando a tia que fazia a quitanda.Se bem que ela era um pouco brava e não dava muita chance de peraltices.Mas nós ficávamos tirando as brevidades das forminhas era uma forma de ajudar e quando elas quebravam nós saboreávamos não porque estivéssemos com fome, mas por pura diversão. Fora outras essa é uma boa lembrança.

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