sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

... de lá de Sorocaba


Em novembro do ano passado, fiz um lançamento do Quitandas de Minas também no 9º Encontro de Literaturas de BH e lá conheci a Junelise, que tem um livro super interessante: Memória culinária -coisa de vó, é o título. O mais interessante que ela produz artesanalmente um a um, no maior carinho. No livro ela costura ervas: alecrim, manjericão, tomilho,hortelã e conta histórias das suas avós e da sua infância. Além desse livro, Junelise é artesã e faz coisas fantásticas. Lá de Sorocaba ela me conta da geleia de goiaba. June, o tempo das goiabas está apenas começando, por aqui tem a famosa enchente das goiabas que costuma fazer uns estragos. Tomara que ela venha mansa esse ano.

Olha ai a Junelise filosofando:

" Ei Rosaly!!Tudo certim? Pois é, acho que consegui comentar no seu blog...Estou passando uns dias em Sorocaba, 90 km de São Paulo e a chácara tem várias goiabeiras cheinhas de goiabas maduras. Desde que cheguei escolho uma no pé e como na hora. Ô delícia! Hoje resolvi catar um bocado mais pra fazer um suco e quando preparava a polpa no liquidificador, pensei em uma geléia. Coloquei a panela no fogo, acrescentei uma xícara de açúcar e uma xícara de polpa batida no liquidificador e coada. Enquanto mexia a panela, lembrei quando me contou de suas geléias de frutas colhidas do quintal. Fui mexendo, mexendo, é mesmo mágico...foi tomando mais cor, o perfume também vai mudando... imaginei que era parecido com brigadeiro de colher, quando a gente começa a ver o fundo da panela está ficando no ponto e também lembrei de caldos, que vão ficando encorpados quando a espuminha das laterais vai diminuindo.. Desliguei o fogo. Esperei esfriar um pouco ainda mexendo com a colher, escolhi uma graciosa vasilha e despejei aquela doçura avermelhada ali. Estava pronta minha primeira geléia! Pena que estou sem a câmera... Ficou a raspa na panela, enquanto pegava um pedaço de pão pra passar, vi um bicho de goiaba se arrastando na bancada da pia. Foi engraçado, mas dizem que bicho de goiaba, goiaba é, né? Indaguei outra coisa: dá pra fazer a geléia com açúcar mascavo? Um beijo grande pra você, Junelise"

Acho que dá sim para usar o açúcar mascavo, mas a geleia vai perder aquela cor característica e pode também alterar um pouco o sabor. Se você tiver muita goiaba ai, experimente e depois me conte. Ô Junelise, você escreve gostoso demais, só falta provar das suas coisas.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

... como prometido

E o carnaval acabou. Ou, carnaval agora só em 2010, ano em que acontecem novas eleições presidenciais no Brasil e a primeria Copa do Mundo de Futebol no continente africano. Mas pra falar que o carnaval já acabou depende de qual região do Brasil você está agora. Mas isso aqui não faz muita diferença, porque pular, coçar e comer é só começar, já dizia minha avó.

Então, que a folia já começa a refrescar, entre na paz, e tente preparar essa receita da maravilhosa Broinha de Fubá de Canjica do Hotel Guanabana de S. Lourenço. Essa receita foi-me passada por telefone pela pessoa que faz as broinhas todos os dias, o cozinheiro José Fernando Sobral. Ele me disse que é bastante trabalhosa, mas é tanta gente que pede a receita, que ele se sente recompensado. Foi explicando cada passo, naquele jeito mineiro e cuidadoso de passar um segredo. Senti, do lado de cá da linha que ele era só alegria!



Anote os ingredientes:


1 litro de leite ou água
½ xícara de margarina
½ xícara de açúcar

1,6 kg de farinha de trigo
1 kg de fubá
20 ovos

Uma batedeira industrial
Um forno elétrico

Levar a mistura de leite, margarina e açúcar ao fogo e deixar até ferver. Quando ferver, misturar 600g de farinha de trigo e 600g de fubá, colocando devagar para não embolar. Levar para bater numa batedeira industrial, juntando aos poucos 20 ovos, colocando de 3 em 3, aos poucos. Bater por uma hora, até esfriar. Tirar da batedeira e, com uma colher, ir fazendo as broinhas. Passar cada broinha feita numa mistura de aproximadamente 1 kg de farinha de trigo e 300 g de fubá. Colocar, com cuidado, num tabuleiro polvilhado e levar para assar em forno elétrico por aproximadamente 45 minutos. Dá mais ou menos 25 broinhas, mas são maravilhosas.

Se você fizer, por favor, me avise, que vou fazer questão de ligar para o Fernando Sobral.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

no sul de Minas


Uma semana antes do lançamento do Quitandas de Minas, receitas de familia e histórias em BH, recebi um convite pra lá de especial (de alguém pra lá de especial também), para ir conhecer as cidades do Sul de Minas: Caxambu e São Lourenço. Em Caxambu estava acontecendo a 31ª reunião da Anped (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação) e o Paulo Praxedes que estava lá representando o INEP fez questão da minha presença para autografar o Quitandas, que estava sendo vendido por lá e já fazia sucesso. Paulo é de Januária, cidade que fica à beira do Rio S. Francisco e mora atualmente em Brasília.


Reparei que Minas são mesmo muitas, como já disse Guimarães Rosa. Mas algumas das características definem bem o mineiro: povo hospitaleiro, fazedor de boa comida e muitos doces, muitas quitandas, que gosta de prosear e contar casos. Por ali, no sul de Minas há a maior plantação de café do Brasil e é fácil encontar essa combinação mais que perfeita: cafés e quitandas. Lá a gente encontra Quitandas nos dois sentidos: as vendinhas de frutas e os doces, biscoitos e pães tão saborosos, e feitos com tanta maestria.


Em São Lourenço ficamos hospedados no Hotel Guanabana. O café da manhã tinha a melhor broinha de fubá de canjica que já experimentei da vida: olha ela ai, que levamos pra Caxambu na bolsa:





A receita dessa broinha especialíssima é feita pelo
talentoso José Fernando Sobral, que trabalha no hotel.
Eu vou postar a receita aqui toda explicadinha pra você experimentar fazer. Aguarde!




Nos passeios que fizemos pelo belíssimo Parque das Águas de São Lourenço há sete fontes de águas terapêuticas, muito verde, um balneário onde se pode relaxar com banhos e massagens deliciosas entre outras coisas e num cantinho super simpático uma estante com livros bem variados para que as pessoas se deleitem também com a literatura. Lá encontramos um livro do Rubem Alves que também é mineiro, dali pertinho - de Boa Esperança - que tem um dos textos mais explicativos sobre o que é a cozinha para os mineiros. Trechos desse texto abre um capítulo no Quitandas de Minas, receitas de família e histórias porque ilustra bem a cozinha da casa em que cresci: a casa da Vovó Naná e do Vovô Zezé.


"Seria tão bom, como já foi...", diz a Adélia. A alma mineira vive de saudade. Tenho saudade do que já foi, as velhas cozinhas de Minas, com seus fogões de lenha, cascas de laranja secas, penduradas, para acender o fogo, bule de café sobre a chapa, lenha crepitando no fogo, o cheiro bom da fumaça, rostos vermelhos. Minha alma tem saudades dessas cozinhas antigas...”

“ Nas casas de Minas a cozinha ficava no fim da casa. Ficava no fim não por ser menos importante mas para ser protegida da presença de intrusos. Cozinha era intimidade. E também para ficar mais próxima do outro lugar de sonhos, a horta-jardim. Pois os jardins ficavam atrás. Lá estavam os manacás, o jasmim do imperador, as jabuticabeiras, laranjeiras e hortaliças. Era fácil sair da cozinha para colher chuchu, quiabo, abobrinhas, salsa, cebolinha, tomatinhos vermelhos, hortelã e, nas noites frias, folhas de laranjeira para fazer chá.”

O texto completo, pra você conferir e se identificar está no link: http://www.rubemalves.com.br/cozinha.htm




quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

tá servido?

O mineiro só acha que está sendo hospitaleiro quando mata o visitante de tanto comer


Lauro M. Coelho. Folha de S. Paulo. Caderno C1, 2 dez. 1990.


terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

a bala delícia...

A bala delícia na família sempre foi uma especialidade da Tia Zoé , irmã da minha avó, que morava no bairro Santa Efigênia em Belo Horizonte. Caprichosa e muito querida, quando ia à Congonhas, sempre fazia e levava balas à sobrinhada. Hoje quem as faz e muito bem e até ganha um dinheirinho com isso é a Tia Imene. - ela aceita encomendas, se você quiser, é só pedir que a gente manda- Ela faz também pra agradar a meninada que está sempre circulando por sua casa. Faz de todo jeito: também a versão bala recheada, que pode ser de nozes, brigadeiro ou goiabada. Sempre uma autêntica e deliciosa bala delícia:



Ingredientes:


1 vidro de leite de coco (200 ml)
1 kg de açúcar refinado
1 medida do vidro de leite de coco de água (200 ml)
- manteiga para untar o mármore

Para fazer é assim:
Coloca todos os ingredientes numa panela. Mistura bem e leva ao fogo. Deixar ferver até o ponto de bala dura. Para saber quando é o ponto, tire um pouco de calda e coloque num prato com água fria, verificando a consistência. Se estiver no ponto, isto é dura, deve fazer barulho ao cair ao chegar no prato. Estando no ponto, vire tudo no mármore previamente untado com manteiga ou margarina. Deixar esfriar um pouco até você conseguir pegar. Muito quente você queima a mão, cuidado! Ai, retira a massa da pedra e puxe (esticar e dobrar unindo as pontas) até ficar clara e perolada. Estica e corta com tesoura a bala do tamanho desejado. Ai você pode deixar na pedra até açucarar, isto é, até ficar branquinha.


Uma dica: Tia Imene só usa o leite de coco marca Sococo.



Ah, mais uma coisa: reparou a beleza do frivolité da foto? Pois é! É a Tia Imene quem faz. Ela faz e ensina aliás, ela é bordadeira, costureira e inventadeira de qualquer moda, sempre de mão cheia, tudo no maior capricho! Só quem não a conhece não sabe disso!!!


E pra encerrar... a turma do puxa, fazendo a bala delícia:

pensa que é fácil? ... tem que ter jeito e muque. Garanto que quem faz bala delícia pode "dar adeus" com o braço bem alto! he he he ...



segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

na CBN São Paulo...

Em julho de 2008, quando já estava com o Quitandas de Minas, receitas de família e histórias saindo do forno, quer dizer, da editora, escutei um papo sobre quitandas e quitutes no boletim Turismo e Gastronomia na CBN no programa ancorado por Carlos Alberto Sardenberg. Havia uma informação que diferia das definições que usamos aqui em Minas. Então cheguei em casa e passei um e-mail explicando as diferenças. Rapidinho fizeram contato e isso virou matéria no blog das duas editoras do boletim. Olha ai o que saiu. O link completo está aqui: http://vejasaopaulo.abril.com.br/red/blogs/omelhordobrasil/2008_07_01_arquivo.shtml

Quinta-feira, 31 de Julho de 2008

Mais sobre as quitandas

A ouvinte Rosaly Senra (*) enviou uma mensagem para o âncora da CBN Carlos Alberto Sardenberg depois de ouvir o boletim de hoje sobre as quitandas mineiras. Ela irá lançar um livro sobre o assunto na próxima Bienal do Livro de São Paulo, que começa no dia 14 de agosto. A obra se chama Quitandas de Minas Gerais: receitas de família e história e vai ser publicada pela Editora Autêntica.

Gostariamos de agradecer a Rosaly e complementar as informações do boletim com outras que ela nos enviou:

“Quitanda é uma palavrado dialeto quimbundo. Kitanda significa o tabuleiro em que se expõem as mercadorias diversas (gêneros alimentícios) de vendedores ambulantes ou em feiras livres. No interior do Brasil é também o pequeno estabelecimento comercial onde se vendem ovos, frutas, verduras, cereais, materiais de limpeza e pequenos objetos da lida doméstica.

Em Minas, além da definição acima, aplicou-se às comedorias ligeiras, em sua maioria de origem africana, mas desenvolvidas pelo gênio culinário das pretas velhas em colaboração com as sinhás-donas. Na cozinha mineira quer dizer tudo aquilo que é servido com o café, exceto o pão: bolos, fatias, biscoitos, sequilhos, broas, sonhos ou aquela sobremesa especial, feita por produtos vindo dos quintais: o doce de leite, a goiabada com queijo, ou a compota de fruta que se oferece após o almoço. Já os quitutes são os pratos de almoço, elaborados com sal: tutu de feijão, lombo com tropeiro, frango ao molho pardo, frango com quiabo, tropeiro...."

(*) Rosaly é autora do livro Em busca de cerejas, nas trilhas do Santiago de Compostela, publicado em 2004, também pela Editora Autêntica. É bibliotecária, jornalista, radialista e trabalha na rádio UFMG Educativa, de Belo Horizonte, onde apresenta o programa Universo Literário.

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domingo, 15 de fevereiro de 2009

Hoje é domingo, pé de caximbo... Domingo pede uma sobremesa gostosa e fácil de fazer, aproveitando a época do abacaxi que já está acabando, deixo aqui uma receita deliciosa de Amor em pedaços, que a Dinha Lete fazia com maestria.
O EM publicou no dia 20 de janeiro e ela está no livro Quitandas de Minas à página 163, com foto do Pacelli Ribeiro.






... tô me sentindo meio despedaçada de amor... Será que tenho conserto?


sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Crítica literária de receitas culinárias

Ao contrário do Luis Fernando Veríssimo, não boto os pés na cozinha apenas pra saber por que a comida atrasou. Eu me arrisco no perigoso esporte de pilotar um fogão, mesmo sem o talento culinário do cartunista e animador Lancast. Meu linguado ao molho de vinagre se tornou lendário, talvez porque eu, para dar um toque pessoal, comecei eliminando o vinagre. Como ainda me interesso por literatura, leio muitas receitas, avaliando o potencial, como diria algum acadêmico, de palatabilidade e os méritos literários ao mesmo tempo. Daí a pensar num novo gênero, a crítica literária de receitas, foi um passo.

Em geral o autor da receita mostra seu gênio ou inépcia no capítulo Modo de fazer. Mas topei com um sujeito que quebra a cara na lista dos ingredientes, numa receita de tortinha de morango. Onde devia constar dois ovos, está "duas unidades de ovos grandes". Onde devia constar a quantidade de farinha, está "o quanto baste de farinha". A mesma coisa sobre manteiga para untar as forminhas. Ora, vá ser pomposo assim na cozinha da Academia Brasileira de Letras.


Esse texto é de autoria do gaúcho Ernani Ssó, um cara que adora escrever sobre fantasmas e assombrações de uma forma muito bem humorada. Foi-me enviada pelo amigo Sérgio Fantini (http://www.familiafantini.com.br/) quando eu disse a ele que iria fazer um blog sobre o Quitandas de Minas, receitas de família e histórias.


Ah, e hoje à noite eu vou lá, encontrar com d. Henriqueta Lisboa, no Café da Travessa Livraria para o relançamento d' O Menino Poeta... o livro tá lindo, lindo e é um clássico da nossa literatura! Quer saber mais? Tão olha ai: http://www.editorapeiropolis.com.br.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Pomar

Pomar
Henriqueta Lisboa


Menino - madruga
o pomar não foge!
(pitangas maduras
dão água na boca.)

Menino descalço
Não olha onde pisa.
Trepa pelas árvores
Agarrando pêssegos.
(Pêssegos macios
como paina e flor.
Dentadas de gosto!)


Menino, cuidado,
jabuticabeiras
novinhas em folha
não agüentam peso.



Rebrilha, cem olhos
agrupados, negros.
E as frutas estalam
- espuma de vidro -
nos lábios de rosa.
Menino guloso!



Menino guloso,
Ontem vi um figo
mesmo que um veludo,
redondo, polpudo,
E disse: este é meu!
Meu figo onde está?

-passarinho comeu,
passarinho comeu...

Esse poema de Henriqueta Lisboa faz parte do livro O Menino poeta, que está sendo relançado nessa sexta-feira em Belo Horizonte e no sábado e domingo no Rio de Janeiro. A Editora Peirópolis caprichou na publicação e ainda incluiu ilustrações de Nelson Cruz, prefácio do grande poeta Bartolomeu Campos de Queirós e posfácio de Gabriela Mistral. O livro ficou uma jóia !

E esse poema só entrou aqui, porque, se eu pudesse, diria pra esse menino da Henriqueta:

- se lá na sua casa tivesse uma Dinha Lete, ou uma tia Cecy, passarinho não comia nada. Lá em casa, toda fruta da horta (a gente nunca falava pomar, falava mesmo era horta) virava doce, geleia, suco ou acabava nos bolos.



Bolo da mineira - receita

Ganhei essa receita da prima Cristina. Com o passar dos tempos, fui modificando-a aos poucos, uma laranja a mais, uma pitada disso, outra daquilo, aumenta daqui, troca isso. Essa é a minha receita final, que chamo de bolo da mineira porque uma vez levei aos amigos de São Paulo, a turma do Vozes do Brasil, e ela acabou virando história. É muito apreciada também entre os amigos, e as vizinhas, que me visitam para um chá com poesia, prosa, livros e conversa fiada.



quando faço rótulo, escrevo assim:
Bolo da mineira:
um momento especial, farinha de trigo integral, açúcar mascavo, ovos, pitada de carinho, passas, boa música de fundo, castanha do Pará, fermento da amizade, laranja, votos de sucessos e muito alto astral.


Ingredientes:
4 xícaras de farinha de trigo integral
3 xícaras de rapadura raspada (ou açúcar mascavo)
½ xícara de castanha do Pará
1 xícara de passas
1 colher (chá) de bicarbonato de sódio
1 colher (sopa) de fermento em pó.
-------------------
3 laranjas inteiras (tirar somente a casca e as sementes)
3 ovos inteiros
1 xícara de margarina
2 colheres (sopa) de óleo.


Modo de fazer:
Misturar numa vasilha a farinha de trigo – peneirada com o bicarbonato e o fermento-, o açúcar mascavo, a castanha-do-pará e as passas. No liquidificador, bater as laranjas picadas, sem cascas e sem sementes, os ovos, a margarina e o óleo. Juntar os ingredientes batidos no liquidificador aos da vasilha e misturar bem, batendo um pouco. Colocar em forma untada e polvilhada com farinha de trigo e levar para assar em forno quente por aproximadamente 30 minutos.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

... o lançamento do Quitandas de Minas

Pois é, comecei aqui postando todo dia uma coisinha sobre o livro Quitandas de Minas, receitas de famílias e histórias que foi lançado oficialmente no dia 25 de outubro de 2008, na Livraria Leitura do Pátio Savassi, em grande estilo.

Vou postar aqui muitas receitas e as histórias que estão no livro, e outras mais.


Mas ainda não contei porque resolvi fazer esse livro, e como toda a pesquisa começou. As histórias recolhidas são coisas da minha infância, mas a ideia de fazer o livro começou assim:

Em Congonhas, todo último domingo do mês de maio, desde 2001 acontece o Festival de Quitandas. Minha prima participa, fazendo bolos, pães e movimentando a casa. A cidade se mobiliza e as quitandeiras da cidade e região entram em alvoroço. O Festival da Quitanda de Congonhas já é há muito tempo um sucesso! Pois bem, num dia de maio de 2005 ou 2006, saindo do trabalho, lá na UFMG, encontro Maria Helena Santos (bibliotecária em todos os sentidos, por quantas vidas tiver) que me diz:

- Cê tá indo pra Congonhas? Então traz de lá, pra mim, o livro das receitas do Festival de Quitandas. Vi na TV e quero o livro, e insistiu: traz pra mim.

Ela foi tão incisiva que, sem resposta, falei que sim, e sai pensativa:
- mas não conheço o livro de quitandas de lá, acho que não tem... Vou fazer!
E botei as mãos na massa, isso é, à obra, e comecei a pesquisa, primeiro em livros nas bibliotecas da UFMG, nas livrarias, depois com as quitandeiras e por fim me debrucei nos cadernos da família, fui registrando histórias, querendo saber mais, de cada receita, como era feito, quando era feito ... e assim foram quase 4 anos de pesquisa.

A foto é do lançamento do livro, eu e Maria Helena, felizes com o resultado final!

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

... veio do Recife

A Célia é minha amiga peregrina, mora em Recife, terra de muitas comidas boas, só que diferentes da comida mineira. Nos conhecemos fazendo o Caminho de Santiago, na Espanha. E foi dela um depoimento impressionante sobre o Caminho, o tratamento dado aos peregrinos por lá. E possível ver, através do depoimeto da Célia, a força e a perceverança que essa baixinha tem.O depoimento da Célia, se você quiser conferir, está no meu primeiro livro Em busca de Cerejas, nas trilhas do Caminho de Santiago. Se você quiser conhecer o livro , clique no título. Ele foi publicado em 2004.

Bom, mas a Célia viu esse blog e de Recife, carinhosamente, escreveu. Veja ai:

" minha flor,a capa do seu livro dá água na boca. Só fiquei envergonhada de fazer qualquer comentário no blog, pois, caso queira conhecer uma cientista maluca coloque-me numa cozinha, rs.rs... Sou um desastre completo.Quando estava namorando meu marido, que é um bom mineiro de Poços de Caldas e sua mãe era uma quituteira de mão cheia, resolvi "conquistá-lo pelo estômago" e um dia ele chegou com fome e lá fui eu preparar um ovo estrelado, "minha especialidade" (não sabia fazer mais nada). Fiz tudo certo - depois de ter derrubado uns dois ovos no chão - (não conseguia acertar a frigideira com oleo quente) com esmero e quando ele comeu o primeiro pedaço, levantou-se e, calmamente correu pro banheiro. Eu tinha colocado açúcar no lugar do sal. Se dependesse dos meus dotes culinários teria ficado solteira. Parabéns pelo livro.Vou adquirir um, quem sabe eu mude de idéia e, um dia, consiga desenvolver uma das receitas, sem incidentes. O que me deixa triste é que adoro comida mineira e aqui em Recife não há restaurantes especializados.bjs.sucesso,célia

"Célia, não é nenhuma vergonha não saber cozinhar!!! Cada um sabe uma coisa dessa vida, ninguém sabe tudo mesmo... Você, com certeza, sabe um montão de outras coisas. Beijos,

sábado, 7 de fevereiro de 2009

... o quê é a comida mineira

Quando resolvi fazer o livro de quitandas fui buscar nos livros o quê o senso comum já sabia: porque o conceito de mineiridade começa pela cozinha. Achei na biblioteca da Fafich o livro da Mônica Abdala:

" A comida mineira está relacionada com o que se convencionou chamar hospitalidade mineira, ou a arte de bem receber ritual cotidiano ligado à tradição. Convencionou-se relacionar à identidade mineira: o fogão, a comida e a cozinha.

A associação entre um típico mineiro e a cozinha pode ser percebida na literatura desde o século XIX, através de relatos de viajantes, cartas, crônicas, ensaios, memórias, livros e posteriormente, a partir da década de 1970 por uma sistematização dos estudos da gastronomia e costumes culinários do Estado, dentro de um projeto estadual de preservação da culinária típica mineira.

No entanto, as quitandas não são mencionadas nos relatos dos viajantes do século XIX, talvez porque, infelizmente, nesse período não há relato das mulheres, que na época eram analfabetas. "

Abdala, Mônica Chaves. Receita de mineiridade: a cozinha e a construção da imagem do mineiro. –Uberlândia: Edufu, 1977.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

o livro

então... a capa do livro Quitandas de Minas, receitas de família e histórias é essa:

O livro pode ser encontrado nas boas casas do ramo, e também no site da Editora: http://www.autenticaeditora.com.br/
Aqui, aos poucos, vou contando coisas que não entraram no livro, tipo outras receitas, outros casos, outras fotos. E também muita coisa qua aconteceu depois do lançamento dele. Surpresas e mais surpresas... Você também pode contar histórias e casos de coisas acontecidas à mesa, ou ao pé do fogão, ou do tacho. Tô aguardando...

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Minas confabula à mesa....

Na mesa
Alphonsus de Guimaraens Filho

Sobre a toalha, o pão,
o bule, as xícaras, o café
canfabulam. Que dizem
no seu silêncio de coisas
tocadas de esperança,
da latente esperança
da manhã? Dir-se-ia
que se sentem ligados
à vida - ou que na vida
se irmanam, se confundem,
pousados sobre a mesa
como em seu próprio mundo,
pousados no silêncio
como se tudo fosse,
para eles, a dádiva
fascinante, translúcida.

A um canto, solitária
uma faca os espia.

Alphonsus de Guimaraens Filho, nasceu em Mariana -MG em 1918. Na década de 1940 trabalhou na Rádio Inconfidência (BH). Faz parte da 3ª geração de poetas modernistas.

Esse poema Na mesa saiu no Suplemento Literário do Minas Gerais nº 1316, de janeiro de 2009 e acabou de chegar aqui em casa.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

... e a Cíntia escreveu também...


A Cíntia mora em Pouso Alegre, cidade próspera do sul de Minas (essa nossas muitas Minas) e é leitora voraz, poeta, dona de casa, cozinheira, quitandeira, musicista, adora um tacho, um fogão à lenha, e já está com um livro pronto para publicar, só falta mesmo a editora.
Olha ai ela e as panelas... Ela escreveu:

"Rosaly, já vi o blog. Ficou muito interessante. Ninguém aqui sabia me dizer de onde vinha a araruta e o Noel" com seu dia de mingau"fechou a questão e prova, mais uma vez, que na cozinha nascem as boas idéias. Comendo e bebendo se faz música, poesia, grandes amizades.Uma coisa puxa a outra e elas vão se encadeando, elos de uma mesma corrente.
Não sei se lhe contei sobre a Adélia Prado na minha cozinha, almoçando e jantando por obra do acaso, pois se a porta está sempre aberta alguém há de entrar. E ela entrou com seu marido muito simpático, comeu frango com quiabo e angú, chupou jaboticaba e jogou conversa fora como boa mineira.
Quinta feira passada juntei minha turma do violão e fomos na fazenda tocar pra minha mãe.
Chovia muito mas mesmo assim fomos recebidas com um festival de milho verde: bolão, pamonha...e ela na sua cadeira, sem dar mais muito acordo do que acontece a sua volta, mas mesmo assim gostou da barulheira que fizemos.

Não sei entrar no blog para palpitar.Vou pedir socôrro pra minha prof. de flauta e depois dou um alô. Tenho três receitas de bolo de maçã, com pequenas diferenças. É bem como você fez. Muda uma coisinha aqui, outra ali, o dedo de um palpiteiro e muitas coisas gostosas vão sendo criadas.

"Comer é muito bom. É um ato de fé na vida. E um prazer que pode ser partilhado, por isso a mesa é chão sagrado." Este é um pedacinho do meu livro: No calor do fogo e da alma mineira."


Brigadão Cíntia, você palpitou bonito!

O Pastel da Tia Regina


Macário Batista é jornalista das antigas, chegou em Congonhas, lá pelos idos anos 70, pra escrever uma novela para a saudosa Rádio Nacional do Rio de Janeiro sobre a vida do Zé Arigó. Acho que foi ele que me apresentou a profissão de jornalista,(esse "negócio" de diagramar jornal, de ir pra campo de futebol, de falar em rádio, de fotografar no melhor ângulo) e também a de bibliotecária, pela qual passei. Bom, quando ele conheceu esse blog quis comentar, mas o comentário é tão bom que merece um post.


Segue ai a história do Pastel da Tia Regina,
especialmente enviada para o Quitandas de Minas.

Aqui: http://www.oestadoce.com.br/?acao=noticias&subacao=ler_noticia&cadernoID=12&noticiaID=8250 você fica sabendo de onde Macário escreveu essa história e por onde ele anda.

O Pastel da Tia Regina
Tinha a casa da Tia Regina, enorme quando eu era menino lá na Praça João Pessoa, na Sobral do começo dos anos 50 do século passado. Tia Regina era a quituteira da cidade. Fazia tudo. Tinha festa no Palace, na AABB, dos 15 anos da filha dos ricos, dos casamentos chiques e lá estavam o bolo confeitado da Tia Regina, seus doces e salgados e, invariavelmente centenas de pastéis. Os pastéis da Tia Regina. Começavam a ser feitos de manha bem cedo, quando ela mesma ia ao mercado comprar a carne. Geralmente um músculo sem fibras que cortava em cubos de 3 centímetros mais ou menos. E chegavam na casa da tia Regina, algumas e alguns ajudantes quando a missão era grande demais. Pra cima de mil salgadinhos e mil docinhos, entre eles os farts (comida árabe que no Brasil só tem em Sobral) lá estava o exercito que tia Regina nem precisava recrutar. Então, ela refogava essa carne em nada. No bafo da própria carne. Quilos e quilos sendo refogados. A carne ficava branca e durinha. A conversa fluindo solta, os namoros, os maridos namoradores da cidade, os vestidos, as novidades encomendadas pelos convidados e festeiros, que Tia Regina também fazia arranjos pras mesas, vestidos e cabeças delas. Era uma danada a Tia Regina. E entrava o serviço dos mais fortes; moer aquela carne toda num moinho de alumínio branco, cor de alumínio, cê sabe, agarrado numa tábua que era pregada num canto de uma mesa, a mesa dos bolos e salgados da Tia Regina. Moída a carne, aquela coisa soltinha, pré-cozida, seria então temperada. Junto com os ovos, farinhas de trigo, sal e um pouco de bicarbonato que botava na mistura da massa dos pastéis, Tia Regina sempre tinha um agrado pros auxiliares. Quem batesse os bolos tinha direito a lamber a panela, quem abrisse as latas podia beliscar um pouco e quem tirasse o caroço das azeitonas ganhava as pontas. Foi ai minha desgraça. E vinham os temperos. Sal, pimenta do reino, azeite doce, banha de porco, coentro picado, cebola roxa bem picadinha, quase moída, alho e carinho. Olhe, o pastel da tia Regina era mais bem tratado do que a noiva, se fosse casamento de moça virgem, coisa que naquele tempo de vez em quando ainda tinha. Aquele mundaréu de carne cheirosa, empesteando de sabores a casa da Tia Regina, a casa da Tia Alice, a casa do Pai Vovô, a Casa da Dona Brígida e o meio da rua. Eram os territórios que faziam fronteira com o pais que era a casa da Tia Regina em dia de festa grande na cidade. A máquina de estirar a massa, que apanhava como que para confessar crimes que nunca cometeu, ficava na outra ponta da mesa. As ajudantes de Tia Regina iam abrindo a massa na máquina, uma duas, três vezes até que ela dizia que estava na textura certa e com a mesa branca de farinha de trigo, alguém se encarregava de cortar os pedaços , nunca maiores do que 9 x 5 cm. naquele compridão e ir botando as quantidades daquela carne temperada e levada ao fogo em fogo brando ate cozinhar e ficar soltinha, como deve ser soltinha todo e qualquer recheio de pastel, como ensina Tia Regina. Alguém vinha seguindo aquele ritual botando a azeitona. A azeitona, invariavelmente preta, era tirada de latas vindas de Portugal e descaroçadas pelo locutor que vos fala, porque eu adorava minha prenda. Com uma máquina, quase um alicate com uma ponta de um lado e um bojo para receber a azeitona do outro lado, um buraco pelo qual passava o caroço da azeitona, eu fazia o diabo na minha missão. Até que um dia o destino me pegou. Era uma festa tão grande, mas tão grande que no meio do caminho do descaroçamento das azeitonas do pastel da tia Regina, passei mal. Tive uma indigestão e tive que ser levado ao médico. Eu havia comido as extremidades de azeitonas de pelo menos 10 latas de um quilo. Não morri das extremidades das azeitonas mas todo dia morro de saudades do Pastel da Tia Regina.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

.. o bolo de maçãs e canela

e ontem, como estava mais para cozinha que para o Theobaldo (esse é o nome do meu PC) até esqueci de deixar a receita. Bom, hoje o bolo já acabou...

Como eu disse que fiz umas modificações na receita, anotei entre parêntesis o quê mexi. Ficou ótimo, mesmo com minhas mexidas...


Bolo de maçã e canela

5 maçãs grandes (eu coloquei só 4)
2 xícaras de açúcar (usei o mascavo)
¾ de xícara de óleo
3 ovos (usei ovo caipira, das galinhas do quintal da minha tia)
2 xícaras de farinha de trigo (usei farinha integral)
1 colher (sopa) de fermento em pó
1 colher (sopa) de canela em pó
Açúcar e canela em pó para polvilhar (nem polvilhei)


E fiz assim:
Bati no liquidificador o açúcar, o óleo de milho, os ovos e as maçãs picadinhas. Numa bacia juntei, peneirada, a farinha de trigo, o fermento. Adicionei a mistura que foi batida no liquidificador e uma maçã picada em cubinhos. Bati um pouco e coloquei em uma forma untada e enfarinhada. Levei ao forno pré-aquecido por mais ou menos 50 minutos.

Dez minutos depois chegou a vizinha e ele se foi, comemos quase tudo de uma vez. Ficou somente um pedacinho pra hoje!