Tia Zóe era irmã da minha avó Naná, a segunda da família e morreu aos 93 anos cheia de lucidez.
Quando a gente era criança, lembro bem, se diziam que vinhamos a Belo Horizonte, era pra ficar na casa da Tia Zoé, no bairro Santa Efigênia. Era uma casa com quintal e tinha um barracão no fundo que funcionava como sala de aula. Tia Zoé era professora e já aposentada dava aulas de reforços.
Na área do tanque, Tio Tonho, seu marido, tinha uma coleção imensa de pássaros cantadores. Eu não entendia bem porque ele mantinha tantos passarinhos engaiolados, mas sabia que ele era apaixonado pelos canários, pelos sabiás, e outros tantos. Ele nem deixava a gente chegar muito perto das gaiolas. Lembro que Tio Tonho passava a manhã inteira dando ração, limpando gaiolas, cuidando com o maior carinho. Entre aqueles todos (eram mais de 100 gaiolas) havia alguns sabiás premiados em concursos, que valiam muito dinheiro, coisa que eu ainda nem sabia muito bem para quê servia.
Tia Zoé, além de professora era ótima contadora de história e de piadas. Era muito risonha, engraçada mesmo. Vivia nos trazendo charadas, brincadeira de advinhas, parlendas ... Lembro dela ajuntando a meninada para contar histórias. Minhas tias, irmãs da minha mãe, contavam também, que no tempo da fazenda, Tia Zoé levava a meninada para um quarto, apagava todas as luzes (na fazenda, apagava o lampião mesmo) e contava histórias de fantasmas e assombrações. Ficavam todos no maior medão, se encolhiam, mas toda noite queriam mais...
Era boa cozinheira e também doceira, claro. Uma das suas especialidades eram as amêndoas, que ela levava para Congonhas enroladas em uns pacotinhos feitos de papel manteiga em forma de cone ou em pacotinhos de pipoca. Contava que fazia com frequência para as crianças (anjos) que participavam da coroação de Nossa Senhora no mês de maio e também para os anjos da Semana Santa da paróquia de Santa Efigênia em Belo Horizonte, ou onde ela estivesse na época .
Segue a receita, sem medida, porque eram feitas "no olho".
Amêndoas da Tia Zoé
Amendoim torrado e limpo
Açúcar refinado
Erva-doce
Modo de fazer:Fazer uma calda em ponto de espelho* com açúcar refinado. Colocar os amendoins, já limpos e torrados numa tigela junto com um pouco de erva-doce esfregadas na mão. Colocar a calda aos poucos sobre os amendoins. A calda deve ser mantida no fogo brando, no mesmo ponto. Mexer bastante (rodando) a tigela até açucarar. Quando tiver seco, repetir a operação, até que as amêndoas estejam do tamanho desejado. Quando acabar a calda, bater as amêndoas até ficarem brancas e sequinhas.
(Pode ser usados pedacinhos de coco)
* Ponto de espelho: quando escorrida na escumadeira a calda faz uma cortina na transparência de um espelho.
Acho muito difícil e trabalhoso fazer essas amêndoas. Outro dia minha mãe e a Mene tentaram fazer e não conseguiram, mas lá em Ouro Preto a tradição de distribuir amêndoas para os anjos continua. A foto é do último 4 de abril, domingo de Páscoa.
Quanta beleza nessa receita, na calda fazendo cortina com a transparência de um espelho.Se eu tivesse uma Tia Zoé, pediria para ela fazer esse espelho, sempre. Só pra ficar olhando...
ResponderExcluirsaudade uma conversa fiada, Rosaly!
beijo
may
Que homenagem linda vc fez à minha mãe. Vc havia me pedido uma foto dela, mas vc tem mais condições de encontra-las do que eu e vc bem sabe porque...rsss
ResponderExcluirEu não conhecia essa foto e devem existir muitas outras que não conheço.
Que saudade dessa pessoa incrível que foi a Dona Zoé.
Obrigada
Elisa
Nossa, amêndoas "de Semana Santa?" Tudo de bom esta receita! Eu adoro!
ResponderExcluirAcho que conheço a anjinha!...
Beijos açucarados!
Márcia Paschoallin
Oi Rosaly! Emocionante essa postagem... eu tenho vagas lembranças da Tia Zoé, lembro mais de ouvir falar o nome. Eu já visitei alguns parentes de BH na infância, mas não lembro de todos, talvez tenha sido ela. Quanto as amêndoas, quem adora é a Helo, é fissurada nelas!
ResponderExcluirEu indiquei seu blog num prêmio que recebi, um selo chamado "Prêmio Dardos, confere lá depois:
http://rafael-senra.blogspot.com/2010/05/selo-do-premio-dardos.html
Abração proce!
amo de paixao essas amendoas, sempre nas festas juninas elas eram muito procuradas, mas não vejo mais. Da uma saudade........
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