24 de junho é dia de São João, e tem festa junina por todo o Brasil, e até pelas terras ibéricas que foi por onde elas chegaram aqui: pular fogueira, quentão, pé de moleque, canjica, pipoca, brincar, arranjar namorado e até casar. Festa ancestral e ritualística, muito bem aproveitada popularmente, mas vou aqui contar outra história.
Há exatos 12 anos, era LUA NOVA e eu estava em Paris, em plena Copa do Mundo de Futebol. Conheci um moço que julguei especial. Eu estava com o coração livre, ele se colocou interessado, disponível. O Cupido atacou. E, não deu outra: me apaixonei.
Conversa vem, conversa vai, já faz tempo que não o vejo: muita água passou debaixo da ponte: virei a minha mesa, mudei de profissão, conheci muita gente, fiz vários amigos, publiquei dois livros (já quase três), viajei bastante, fiz um montão de coisas bacanas, inclusive esse blog, que foi sugestão do tal.
Então, estava eu procurando uma receita especial para deixar para esse moço e achei esse conto, de Ivana Arruda Leite, publicado no livro Falo de mulher. Ateliê, 2002 . Não é uma quitanda, mas vale para celebrar a data, as coisas, os feitos, as palavras e as decepções. Vixe! E foram muitas. Se pelo menos rende literatura, não posso reclamar. É lucro na certa! E o melhor é poder compartilhar.
"Receita para comer o homem amado:
Pegue o homem que a maltrata, estenda-o sobre a tábua de bife e comece a sová-lo pelas costas. Depois pique bem picadinho e jogue gordura quente. Acrescente os olhos e a cebola. Mexa devagar até tudo ficar dourado. A língua, cortada em minúsculos pedaços, deve ser colocada em seguida, assim como as mãos, os pés e o cheiro-verde. Quando o refogado exalar o odor dos que ardem no inferno, jogue água fervente até amolocer o coração. Empane o pinto no ovo e na farinha de rosca e sirva como aperitivo. Devore tudo com talher de prata, limpe a boca com guardanapo de linho e arrote com vontade, pra que isso não se repita nunca mais. "
E ponto final!
(a foto é do restaurante Chez Clémant -Porte de Versailles- em Paris, na época, toda decorada com balaios e mais balaios de cerejas in natura, uma maravilha. Por ali a gente passava todo dia, era o "caminho da roça". O tal moço dele estar, por essas horas, lá pelas terras de Mandela, já que segue na mesma lida)